A Visão Planetária de Barack Obama

A Visão Planetária de Barack Obama
O Presidente Eleito dos Estados Unidos que resgata idéias da Filosofia Teosófica Clássica
CarlosCardoso Aveline
Finalmente um presidente humanista e que seu avô era um curador

“O verdadeiro teosofista não pertence a nenhum culto ou seita, e no entanto pertence a todos eles”. Robert Crosbie


“Em nossa casa, a Bíblia, o Alcorão e o BhagavadGita ficavam na prateleira juntamente com os livros da mitologia grega, norueguesa e africana. NaPáscoa ou no Natal [minha mãe] me arrastava para a igreja,assim como para templos budistas, para acelebração do Ano Novo chinês,para santuáriosxintoístas ou para antigos locais de rituaishavaianos.”
Barack Obama
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A teosofia é uma filosofia planetária e a sua meta primeira é despertar a compreensão e a vivência da fraternidade universal. Assim como o movimento teosófico, ela é independente de rótulos, nomes pessoais, ideologias ou organizações. O que define o verdadeiro campo de ação da teosofia clássica e do seu estudante são fatores muito reais mas intangíveis como a compreensão das leis da natureza, a consciência ética e uma solidariedade para com todos os seres.

Ter acesso à sabedoria divina é um assunto de almas e não de corporações ou instituições. William Judge, um dos principais fundadores do movimento esotérico moderno, escreveu:


“Como o Movimento Teosófico é contínuo, ele pode ser encontrado em todos os tempos e todas as nações. Onde quer que o pensamento venha lutando para ser livre, onde quer que as idéias espirituais tenham sido promulgadas em oposição às formas e ao dogmatismo, lá o grande movimento pode ser percebido.” [1]

Deste ponto de vista, um cidadão de boa vontade e visão ampla pode ser considerado um verdadeiro teosofista, ainda que não seja membro de qualquer agrupação teosófica. Não importa se ele é cristão, judeu,budista, muçulmano ou seguidor de uma ou de outra filosofia. Na medida em que ele compreende a universalidade da ética planetária,sua vida ajuda a abrir espaço para a percepção da fraternidade universal, e ele é um verdadeiro teosofista, no plano da alma.

Este talvez seja o caso do senador Barack Obama, eleito presidente dosEstados Unidos em novembro de 2008 e que agora se prepara para assumir a liderança do país mais influente do nosso processo civilizatorio. Examinando fatos da vida de Obama e fragmentos dos livros que escreveu, poderemos avaliar o tamanho da afinidade entre ele e a ética e a sabedoria universais.

Derrubar os Muros Entre Povos, Raças e Religiões.

Em julho de 2008, Barack Obama falou em Berlim, Alemanha, para uma multidão calculada pelas autoridades policiais em duzentas mil pessoas. Ele abriu o evento sem precedentes esclarecendo que estava ali na condição de “cidadão do mundo” – uma expressão que contém em si mesma a idéia da cidadania planetária e de um mundo sem fronteiras. Ali estava um cidadão em campanha eleitoral nos Estados Unidos,falando em manifestação de rua em país europeu. Em seguida, Obama formulou a sua proposta de cooperação entre todos os povos. Referindo-se indiretamente à derrubada democrática do Muro de Berlim,em 1989, ele disse:

“A solidariedade e a cooperação entre as nações não é uma escolha. É o único caminho, o único caminho, para proteger a nossa segurança comum e fazer avançar a nossa humanidade comum. É por isso que o maior de todos os perigos seria permitir que novos muros nos dividam um dos outros. Os muros entre os velhos aliados dos dois lados do Atlântico não podem ficar de pé. Os muros entre os países que têm muito e ospaíses que têm muito pouco não podem ficar de pé. Os muros entre raças e tribos; nativos e imigrantes; cristãos e muçulmanos e judeus,não podem ficar em pé. Estes são, agora, os muros que nós devemos derrubar. Nós sabemos que eles caíram antes. Depois de séculos de conflito, os povos da Europa formaram uma união promissora e próspera.”

E prosseguiu:

“Aqui, na base de uma coluna construída para marcar a vitória na guerra, nós nos encontramos no centro de uma Europa em paz. Muros caíram não só em Berlim, mas eles vieram abaixo em Belfast, onde os protestantes e os católicos descobriram uma maneira de viver lado alado; nos Balcãs, onde a nossa aliança Atlântica terminou as guerras e apresentou criminosos de guerra à justiça; e na África do Sul, onde a luta de um povo corajoso derrotou o apartheid. Assim, a história nos faz lembrar do fato de que os muros podem ser derrubados. Mas a tarefa nunca é fácil. A verdadeira cooperação e o verdadeiro progresso requerem um trabalho constante e um sacrifício contínuo. Eles exigem que se compartilhe as responsabilidades do desenvolvimento e da diplomacia; do progresso e da paz. Eles requerem aliados que escutam uns aos outros, que aprendem uns dos outros, e, sobretudo, que confiam uns nos outros.” [2]

Libertar o Mundo Das Armas Nucleares.

Barack Obama acrescentou:

“Este é o momento em que devemos renovar a meta de um mundo sem armas nucleares. As duas superpotências que olhavam uma para a outra através do muro desta cidade estiveram demasiado perto, por um tempo demasiado longo, de destruir tudo o que nós construímos e tudo o que amamos. Com o final daquele muro, nós não necessitamos ficar parados sem fazer nada, olhando para a proliferação da energia atômica mortal.(…) Este é o momento de começar a trabalhar em busca da paz de um mundo livre de armas nucleares.”

Depois ele falou vigorosamente da necessidade de paz no Oriente Médio, e abordou a questão da ecologia planetária. Obama disse:

“Este é o momento em que devemos unir-nos para salvar este planeta.Devemos tomar a decisão de que não deixaremos para nossos filhos um mundo em que os oceanos se elevam, e a fome se espalha, e tempestades terríveis devastam as nossas terras. Devemos decidir que todas as nações – inclusive a minha própria – agirão com a mesma seriedade de propósito que a sua nação [a Alemanha], e reduzirão o carbono que colocam na atmosfera. [3] Este é o momento em que devemos devolver às nossas crianças o futuro que pertence a elas. Este é o momento para agirmos em unidade.” [4]

A Intenção de Refazer o Mundo.

Obama parece saber o que deve fazer. E não pode ser acusado de possuir metas demasiado pequenas. Filho de um queniano, e nascido no Havaí, ele concluiu o seu principal discurso fora dos Estados Unidos com estas palavras:


“Povo de Berlim – povo do mundo – este é o nosso momento. Esta é a nossa vez. Eu sei que meu país não tem se aperfeiçoado. (…) Nós temos a nossa quota de erros. (…) Mas também sei que (…) durante mais de duzentos anos, nós temos nos esforçado (…) com outras nações, [por] um mundo com mais esperança. Nosso compromisso nunca foi com qualquer tribo ou reino especificamente – na verdade, todas as línguas são faladas em nosso país; todas as culturas deixaram sua marca na nossa cultura; e cada ponto de vista é expressado em nossas praças públicas. O que sempre nos uniu – o que sempre mobilizou o meu povo – o que atraiu o meu pai para o território norte-americano, é um conjunto de ideais que correspondem a aspirações compartilhadas por todos os povos: a crença de que podemos viver livres do medo e de necessidades materiais graves; de que podemos dizer o que pensamos, e reunir-nos com quem quisermos, e seguir a religião que acharmos melhor. (…) Povo de Berlim – e povo do mundo – a escala do nosso desafio é grande. O caminho à frente será longo. Mas venho dizer avocês que somos herdeiros de uma luta por liberdade. Que somos um povo de esperanças improváveis. Com o olhar voltado para o futuro, com decisão em nossos corações, que possamos lembrar desta história,fazer frente ao nosso destino e refazer o mundo mais uma vez.”

Muito antes do discurso de Berlim, Obama já tinha esta clareza de metas.

Em fevereiro de 2007, ao fazer o discurso de lançamento da sua candidatura, ele assumira um compromisso com a mudança ética e ecológica em escala planetária:

“Sejamos a geração que finalmente liberta a América do Norte da tirania do petróleo. Podemos usar combustíveis alternativos,produzidos localmente, como o etanol, e aumentar a produção de carros com mais eficiência energética. Podemos estabelecer um sistema de fixação de gases que produzem o efeito estufa. Podemos transformar esta crise de aquecimento global em uma oportunidade para inovar, e para criar empregos, e para incentivar empreendimentos que servirão de modelo para o mundo. Sejamos a geração que faz com que as futuras gerações tenham orgulho do que nós fizemos aqui.” [5]

Sem receio de assumir metas visionárias – e olhando muito além das eleições norte-americanas –, ele disse naquela ocasião inaugural:

“E se vocês se somam a mim nesta luta improvável, se vocês sentem o chamado do destino, e vêem, como eu vejo, que o momento de acordar ede abandonar o medo é agora, assim como o momento de pagar a dívida que temos diante das gerações passadas e futuras, então estou pronto aassumir esta causa e marchar com vocês, e trabalhar com vocês.Juntos, a partir de hoje, que completemos o trabalho que necessita ser feito, de trazer para esta Terra um novo nascimento da liberdade.” [6]

A Regra de Ouro.


A proposta de Obama para os Estados Unidos e o mundo é acusada por seus adversários de ser vaga e ambígua. Ele chegou a ser qualificado como “pouco norte-americano”. A verdade é que ele tem uma visão mais complexa e mais profunda do que meras bandeiras eleitorais ou nacionalistas. A base do seu discurso é simultaneamente inter-religiosa, ética e filosófica. Está na famosa Regra de Ouro, um velho princípio da filosofia clássica grega e da antiga sabedoria oriental, que foi ensinado por Confúcio nos “Analectos” e adotado mais tarde pelo cristianismo.
Este princípio ético milenar poderia serchamado, corretamente, de “lei do bom carma”.

Obama esclarece:

“No final das contas, o que se necessita é nada mais, nada menos, que aquilo que todas as grandes religiões do mundo exigem – que façamos aos outros aquilo que queremos que eles façam a nós. Devemos proteger o nosso irmão, como a escritura diz. Devemos proteger a nossa irmã.Devemos encontrar aquele interesse comum que todos temos uns nos outros, e fazer com que a nossa política reflita este espírito.” [7]

O Espírito de Aloha.

O que será que existe de autenticamente teosófico na vida real de Barack Obama, e que possa explicar o seu constante discurso de adesão e de compromisso com a Ética Universal presente em todas as religiões?

Qual é a sua formação, do ponto de vista da visão universalista da vida? Em que atmosfera Obama foi criado?

Ele nasceu em agosto de 1961 no Havaí. Não por casualidade a sua vida e suas idéias parecem expressar, até certo ponto, o espírito de”Aloha”.

A palavra “Aloha” é um verdadeiro mantra sagrado na cultura havaiana, famosa mundialmente por sua abertura mental e fraternidade em relação a todos os povos. É uma saudação e um conceito universalista. O termo é considerado equivalente à palavra sânscrita”Namastê” (“a divindade em mim saúda a divindade em você”); mas também significa “Shalom”, “Paz”, assim como “Compaixão” e “Amizade”.

O chamado “espírito de Aloha” implica um estado mental de paz consigo mesmo e com todos os seres. A filosofia, o discurso e a prática de Barack Obama parecem expressar alguma coisa deste mantra e desta cultura presentes em sua juventude.

Os avós maternos de Barack, que tiveram um papel central na educaçãodo garoto, não só viviam no Havaí com o neto mas foram influenciados em determinado momento pela Igreja Unitária Universalista. Esta era uma igreja que buscava a confraternização das religiões e que mantinha laços estreitos com a Sociedade hinduísta Brahmo Samaj. Apensadora russa Helena Blavatsky escreveu extensamente sobre omovimento Brahmo Samaj, elogiando seu fundador e criticando os erros cometidos por seus líderes posteriores. [8]
Barack Obama escreveu,sobre seu avô materno:

“Ele gostava da idéia de que os Unitários estudavam as escrituras de todas as grandes religiões”.

Para o avô, segundo Barack, era “como ter cinco religiões em uma”. [9]

Um Avô Que Era Curandeiro Africano.

Quanto ao avô paterno de Barack Obama, Hussein Onyango Obama, ele foi um curandeiro africano do Quênia, um muçulmano com poderes de cura e imerso nas tradições da cultura local. [10]

O pai de Barack Obama, africano e negro, também se chamava Barack.Este foi seu mestre e seu herói. Barack, o pai, deixou na vida de Barack, o filho, uma presença transcendente e uma influência mítica. No mundo infantil de Barack, o mundo intangível em que seu pai existia se misturava de algum modo com as origens do cosmo.

Cabe lembrar que a origem e o destino do universo é um tema teosóficopor excelência.

Na sabedoria esotérica oriental, o assunto se relaciona com o caminho das grandes iniciações.
Ao longo da sua obra “A Doutrina Secreta”, H.P. Blavatsky faz um estudo comparado das principais narrativas da origem do universo e do homem, mostrando os pontos em comum que há entre os relatos dos caldeus, da Bíblia, do Popol Vuhcentro-americano, dos Puranas hindus, da Cabala judaica e de muitos outros povos.
Barack Obama enfrentou este tema cósmico em suainfância, junto ao tema do pai-mito.

Em um dos seus livros, ele confessa, não sem humor:
“… O caminho da vida do meu pai ocupava o mesmo terreno que um livro que minha mãe comprou uma vez para mim, um livro chamado “Origens”, uma coleção de histórias da Criação de todas as partes do mundo, histórias de Gênese e da árvore na qual havia nascido o homem, Prometeu e o presente do fogo, a tartaruga da lenda hindu que flutuava no espaço, sustentando o peso do mundo sobre as suas costas. Mais tarde, quando fiquei mais acostumado ao caminho estreito para a felicidade a ser encontrado na televisão e nos filmes, eu ficava perplexo com várias questões.
Em que se apoiava a tartaruga? Por que motivo um Deus onipotente permitiu que uma serpente causasse tamanho sofrimento? Por que meu pai não voltava?
Mas com cinco ou seis anos de idade eu estava satisfeito com deixar estes mistérios distantes intactos…”. [11]

Mãe Universalista e Anti-Dogmática.

Foi a mãe de Obama, branca e norte-americana, que lhe transmitiu na vida diária a visão inter-religiosa e universalista, assim como o hábito diário do auto-treinamento e da auto-disciplina. Ela mantinha uma distância crítica das religiões dogmáticas, assim como faz a teosofia clássica e original, enquanto a pseudo-teosofia, lamentavelmente, cria versões próprias da religiosidade exotérica, com seus dogmas e sacerdotes. Barack escreve que seus avós passaram à sua mãe uma combinação de racionalismo com jovialidade, e acrescenta: “As próprias experiências de minha mãe como criança sensível e amiga dos livros, que crescia nas pequenas cidades do Kansas, Oklahoma e Texas, apenas reforçaram o ceticismo que herdara. As lembranças dos cristãos que povoavam sua juventude não eram das mais agradáveis. Ela ocasionalmente se recordava dos pregadores que baniam três quartos da população mundial por considerá-los pagãos ignorantes condenados a passar a vida eterna em maldição – e que insistiam que a terra e o céu foram criados em sete dias , com todas as provas geológicas e astrofísicas dizendo o contrário. Lembrava-se das mulheres respeitáveis da igreja, sempre tão rápidas em evitar as pessoas que não correspondessem aos seus padrões de decência, apesar de elas próprias ocultarem segredinhos sujos; dos pastores que proferiam epítetos raciais e ludibriavam os trabalhadores para tirar deles todo o dinheiro que conseguissem.”

Tal mediocridade “religiosa” não ocorria por acaso. Há um contexto maior em torno deste tipo de estreiteza de horizontes, que não é um fenômeno local, mas constitui na verdade um problema de escala global, combatido de frente pelos estudantes da teosofia original.

A verdadeira religiosidade não pode ser transformada em prisioneira de uma instituição ou ritual, nem pode distanciar-se por um momento da filosofia ou da ciência. Ela deve, isto sim, avançar inter-disciplinarmente, unida ao livre-pensamento.

Na famosa Carta 88 de “Cartas dos Mahatmas” (Ed. Teosófica, Brasília,dois volumes) , um mestre dos Himalaias – um raja-iogue – afirma que dois terços do sofrimento humano são causados pela falsidade e pelas ilusões provocadas pelas religiões dogmáticas e sacerdotais.

Barack Obama prossegue: “Para minha mãe, a religião organizada muito frequentemente esconde sua mentalidade limitada sob o manto da piedade; e a crueldade e a opressão, sob o da honestidade. Mas isso não quer dizer que ela não me transmitiu valores religiosos. Para minha mãe, o conhecimento de pontos importantes das grandes religiões do mundo era uma parte necessária de uma educação impecável. Em nossa casa, a Bíblia, o Alcorão e o Bhagavad Gita ficavam na prateleira juntamente com os livros da mitologia grega, norueguesa e africana.Na Páscoa ou no Natal [minha mãe] me arrastava para a igreja, assim como para templos budistas, para a celebração do Ano Novo chinês, para santuários xintoístas ou para antigos locais de rituais hawaianos. Mas fui educado para entender que isso não exigia nenhum compromisso de longo prazo da minha parte, nenhum esforço introspectivo maior ou autoflagelação.
Para minha mãe, a religião era uma expressão da cultura humana; ela não explicava a origem da humanidade, era apenas uma das muitas formas – e não necessariamente a melhor maneira – de o homem tentar controlar o desconhecido e entender as mais profundas verdades sobre nossa vida. Em suma, minha mãe via a religião pelos olhos da antropóloga que ela viria a ser; era um fenômeno a ser tratado com respeito, mas também com desapego. (…..) E, apesar do seu secularismo, minha mãe era de muitas formas a pessoa mais espiritualizada que conheci.
Tinha um instinto inabalável para abondade, a caridade e o amor, e passou grande parte da sua vida agindode acordo com estes instintos, às vezes em detrimento de si mesma. Sem a ajuda de textos religiosos ou autoridades externas, trabalhou muito para transmitir a mim os valores que muitos norte-americanos aprendem na escola dominical: honestidade, empatia, disciplina, capacidade de postergar a gratificação pessoal e trabalho duro. Enfurecia-se com a pobreza e a injustiça, e desprezava aqueles que eram indiferentes aambas.” [12]

Uma Visão Racional e Universalista.

Barack construiu sua vida sobre este alicerce filosófico e emocional,intelectualmente profundo mas também inseparável de atitudes práticase concretas. Em suas obras, o leitor encontra passagens em que ele faz, de várias formas, uma declaração de princípios. Não é difícil perceber que o raciocínio de Barack está baseado em uma visão ampla e universal que pode ser qualificada de claramente teosófica no sentido clássico da palavra. Ele afirma: “… Dada a diversidade crescente da população norte-americana, os perigos do sectarismo nunca foram maiores. O que quer que já tenhamos sido, não somos mais apenas uma nação cristã; somos também uma nação judaica, muçulmana, budista, e uma nação de descrentes.”

E prossegue:
“Mas presumamos que só tivéssemos cristãos dentro dos limites das nossas fronteiras. Que cristianismo ensinaríamos nas escolas? (….) Que passagens do Evangelho deveriam guiar nossa política pública? Deveríamos seguir o Levítico, que sugere que não há nada de errado com a escravidão e que comer moluscos é uma abominação? E quanto ao Deuteronômio, que sugere apedrejar seu filho caso ele se desvie da fé? Ou deveríamos nos limitar apenas ao Sermão da Montanha– uma passagem tão radical que é duvidoso que nosso Departamento de Defesa sobrevivesse à sua aplicação? “Definitivamente, a crença cega na letra morta deve ser abandonada. Os princípios essenciais devem ser percebidos, e eles estão além das formas visíveis.
Obama conclui propondo a opção pelo bom senso:
“O que nossa democracia deliberativa e pluralista exige é que pessoas motivadas religiosamente traduzam suas preocupações para valores universais, não determinados pela religião. Isto exige que suas propostas estejam sujeitas a discussõese abertas à razão.” [13]

NOTAS:
[1] “Theosophical Articles”, William Q. Judge, The TheosophyCo., Los Angeles, 1980, edição em dois volumes, ver vol. II, p. 124.
[2] “Change We Can Believe In – Barack Obama’s Plan to Renew America’sPromise”, livro com o programa de governo e sete discursos de Obama,publicado por Three Rivers Press, New York, 2008, 274 pp., ver pp.265-266.
[3] A Alemanha é um dos países do mundo em que há mais consciênciaambiental. A própria Chanceler atual, Angela Merkel, têm uma longatrajetória pessoal de compromisso com a preservação do meio ambiente.
[4] “Change We Can Believe In”, obra citada, p. 267 a 269. [5]”Change We Can Believe In”, obra citada, pp. 198-199. [6] “Change WeCan Believe In”, obra citada, pp. 201-202.[7] “Change We Can BelieveIn”, obra citada, p. 228. [8] Veja, por exemplo, “The CollectedWritings”, Helena Blavatsky, TPH, Índia, volume III, pp. 55-61 e pp.286-287. E também “The Collected Writings”, volume IV, pp. 439-443,entre outros textos. [9] “Dreams From My Father”, Barack Obama,Three Rivers Press, 1995 e 2004, New York, 458 pp., ver p. 17. [10]”Dreams From My Father”, Barack Obama, obra citada, ver p. 09.[11]”Dreams From My Father”, obra citada, p. 10. [12] “A Audácia daEsperança”, Barack Obama, Larousse do Brasil, SP, 2007, 400 pp., verpp. 221, 222 e 223. Nesta citação, segui a edição original em línguainglesa nos casos em que a versão brasileira está inexata. Ver “TheAudacity of Hope”, Three Rivers Press, 376 pp., 2006, pp. 203-204.13] As citações feitas nestes últimos parágrafos vêm de “A Audácia daEsperança”, obra citada, pp. 236-

Discurso de Barack Obama


Senador Barack Obama, 47, eleito presidente dos EUA em 04/11/2008.

“Oi, Chicago.Se alguém ainda duvida que a América é um lugar onde tudo é possível, ainda pergunta se o sonho dos pioneiros ainda estão vivos em nossos tempos, ainda questiona o poder da nossa democracia, esta noite é sua resposta .É a resposta das filas que cercaram escolas e igrejas em números que essa nação nunca havia visto. Das pessoas que esperaram três horas e quatro horas, muitas pela primeira vez em suas vidas, porque acreditavam que desta vez precisava ser diferente, que as suas vozes podiam fazer diferença.Gary Hershorn/ReutersObama, as filhas e a mulher, Michelle, durante festa da vitóriaÉ a resposta de jovens e idosos, ricos e pobres, democratas e republicanos, negros, brancos, hispânicos, asiáticos, índios, gays, heterossexuais, deficientes e não-deficientes. Americanos que enviaram uma mensagem ao mundo de que nós nunca fomos somente uma coleção de indivíduos ou uma coleção de Estados vermelhos e azuis.Nos somos, e sempre seremos, os Estados Unidos da América.É a resposta que recebeu aqueles que ouviram –por tanto tempo e de tantos– para serem cínicos, medrosos e hesitantes sobre o que poderiam realizar para que coloquem a mão no arco da história e torçam-no uma vez mais, na esperança de dias melhores.Faz muito tempo, porém, nesta noite, por causa do que fizemos nesse dia de eleição, nesse momento decisivo, a mudança chegou à América.Um pouco mais cedo nesta noite, recebi um telefonema extraordinariamente gracioso do senador McCain. Ele lutou muito e por muito tempo nesta campanha. Ele lutou ainda mais e por ainda mais tempo por esse país que ele ama. Ele enfrentou sacrifícios pela América que a maioria de nós nem pode começar a imaginar. Nós estamos melhores graças ao serviços desse líder bravo e altruísta.Eu o parabenizo e parabenizo a governadora Palin por tudo que eles conquistaram. Eu estou ansioso por trabalhar com eles e renovar a promessa dessa nação nos próximos meses.Eu quero agradecer meu parceiro nessa jornada, um homem que fez campanha com o coração e que falou para os homens e mulheres com os quais cresceu, nas ruas de Scranton, e com os quais andou de trem a caminho de Delaware, o vice-presidente eleito dos EUA, Joe Biden.E eu não estaria aqui nesta noite sem a compreensão e o incansável apoio da minha melhor amiga dos últimos 16 anos, a rocha da nossa família, o amor da minha vida, a próxima primeira-dama dessa nação, Michelle Obama. Sasha e Malia [filhas de Obama] eu as amo mais do que vocês podem imaginar. E vocês mereceram o cachorrinho que irá morar conosco na nova Casa Branca.E, embora ela não esteja mais entre nós, eu sei que minha avó está assistindo, ao lado da família que construiu quem eu sou. Eu sinto falta deles nesta noite. Eu sei que minha dívida com eles está além de qualquer medida.Para minha irmã Maya, minha irmã Alma, todos os meus irmãos e irmãs, muito obrigado por todo o apoio que me deram. Sou grato a eles.E agradeço ao meu coordenador de campanha, David Plouffe, o herói anônimo da campanha, que construiu o que há de melhor –a melhor campanha política, penso, da história dos EUA.Ao meu estrategista-chefe David Axelrod, que tem sido um companheiro em todos os passos do caminho. À melhor equipe de campanha reunida na história da política –você fizeram isso acontecer, e eu serei sempre grato pelo que vocês sacrificaram para conseguir.Mas, acima de tudo, eu nunca esquecerei a quem essa vitória realmente pertence. Isso pertence a vocês. Isso pertence a vocês.Eu nunca fui o candidato favorito na disputa por esse cargo. Nós não começamos com muito dinheiro ou muitos endossos. Nossa campanha não nasceu nos corredores de Washington. Nasceu nos jardins de Des Moines, nas salas de Concord e nos portões de Charleston. Foi construída por homens e mulheres trabalhadores que cavaram as pequenas poupanças que tinham para dar US$ 5, US$ 10 e US$ 20 para essa causa.Ela [a campanha] cresceu com a força dos jovens que rejeitaram o mito de apatia da sua geração e deixaram suas casas e suas famílias por empregos que ofereciam baixo salário e menos sono.Ela tirou suas forças de pessoas não tão jovens assim que bravamente enfrentaram frio e calor para bater às portas de estranhos e dos milhões de americanos que se voluntariaram e se organizaram e provaram que, mais de dois séculos mais tarde, um governo do povo, pelo povo e para o povo não desapareceu da Terra.Essa é a nossa vitória.E eu sei que vocês não fizeram isso só para ganhar uma eleição. E eu sei que vocês não fizeram tudo isso por mim.Vocês fizeram isso porque entendem a grandiosidade da tarefa que temos pela frente. Podemos comemorar nesta noite, mas entendemos que os desafios que virão amanhã serão os maiores de nossos tempos –duas guerras, um planeta em perigo, a pior crise financeira do século.Enquanto estamos aqui nesta noite, nós sabemos que há corajosos americanos acordando nos desertos do Iraque e nas montanhas do Afeganistão para arriscar suas vidas por nós. Há mães e pais que ficam acordados depois de os filhos terem dormido se perguntando como irão pagar suas hipotecas ou o médico ou poupar o suficiente para pagar a universidade de seus filhos. Há novas energias para explorar, novos empregos para criar, novas escolas para construir, ameaças para enfrentar e alianças para reparar.O caminho será longo. Nossa subida será íngreme. Nós talvez não cheguemos lá em um ano ou mesmo em um mandato. Mas, América, nunca estive mais esperançoso do que chegaremos lá. Eu prometo a vocês que nós, como pessoas, chegaremos lá.Haverá atrasos e falsos inícios. Muitos não irão concordar com todas as decisões ou políticas que eu vou adotar como presidente. E nós sabemos que o governo não pode resolver todos os problemas. Mas eu sempre serei honesto com vocês sobre os desafios que enfrentar. Eu vou ouvir vocês, especialmente quando discordarmos. E, acima de tudo, eu vou pedir que vocês participem do trabalho de refazer esta nação, do jeito que tem sido feito na América há 221 anos –bloco por bloco, tijolo por tijolo, mão calejada por mão calejada.O que começamos 21 meses atrás no inverno não pode terminar nesta noite de outono. Esta vitória, isolada, não é a mudança que buscamos. Ela é a única chance para fazermos essa diferença. E isso não vai acontecer se voltarmos ao modo como as coisas eram. Isso não pode ocorrer com vocês, sem um novo espírito de serviço, um novo espírito de sacrifício.Então exijamos um novo espírito de patriotismo, de responsabilidade, com o qual cada um de nós irá levantar e trabalhar ainda mais e cuidar não apenas de nós mesmos mas também uns dos outros. Lembremos que, se essa crise financeira nos ensinou uma coisa, foi que não podemos ter uma próspera Wall Street enquanto a Main Street sofre.Nesse país, nós ascendemos ou caímos como uma nação, como um povo. Resistamos à tentação de voltar ao bipartidarismo, à mesquinhez e à imaturidade que envenenou nossa política por tanto tempo.Lembremos que foi um homem deste Estado que primeiro carregou a bandeira do Partido Republicano à Casa Branca, um partido fundado sobre valores de autoconfiança, liberdade individual e unidade nacional.Esses são valores que todos compartilhamos. E enquanto o Partido Democrata obteve uma grande vitória nesta noite, isso ocorre com uma medida de humildade e de determinação para curar as fissuras que têm impedido nosso progresso.Como [o ex-presidente Abraham] Lincoln [1861-1865] afirmou para uma nação muito mais dividida que a nossa, nós não somos inimigos, e sim amigos. A paixão pode ter se acirrado, mas não pode quebrar nossos laços de afeição. E àqueles americanos cujo apoio eu ainda terei que merecer, eu talvez não tenha ganho seu voto hoje, mas eu ouço suas vozes. E eu preciso de sua ajuda. Eu serei seu presidente também.E a todos aqueles que nos assistem nesta noite, além das nossas fronteiras, de Parlamentos e palácios, àqueles que se reúnem ao redor de rádios, nas esquinas esquecidas do mundo, as nossas histórias são únicas, mas o nosso destino é partilhado, e uma nova aurora na liderança americana irá surgir.Àqueles que destruiriam o nosso mundo: nós os derrotaremos. Àqueles que buscam paz e segurança: nós os apoiamos. E a todos que questionaram se o farol da América ainda ilumina tanto quanto antes: nesta noite nós provamos uma vez mais que a verdadeira força da nossa nação vem não da bravura das nossas armas ou o tamanho da nossa riqueza mas do poder duradouro de nossos ideais: democracia, liberdade, oportunidade e inabalável esperança.Esse é o verdadeiro talento da América: a América pode mudar. Nossa união pode ser melhorada. O que já alcançamos nos dá esperança em relação ao que podemos e ao que devemos alcançar amanhã.Essa eleição teve muitos “primeiros” e muitas histórias que serão contadas por gerações. Mas há uma que está em minha mente nesta noite, sobre uma mulher que votou em Atlanta. Ela seria como muitos dos outros milhões que ficaram em fila para ter a voz ouvida nessa eleição não fosse por uma coisa: Ann Nixon Cooper tem 106 anos.Ela nasceu apenas uma geração após a escravidão; uma época na qual não havia carros nas vias nem aviões nos céus; quando uma pessoa como ela não podia votar por dois motivos –porque era mulher ou por causa da cor da sua pele. Nesta noite penso em tudo que ela viu neste seu século na América –as dores e as esperanças, o esforço e o progresso, a época em que diziam que não podíamos, e as pessoas que continuaram com o credo: Sim, nós podemos.Em um tempo no qual vozes de mulheres eram silenciadas e suas esperanças descartadas, ela viveu para vê-las se levantar e ir às urnas. Sim, nós podemos.Quando havia desespero nas tigelas empoeiradas e a depressão em toda parte, ela viu uma nação conquistar seu New Deal, novos empregos, um novo senso de comunidade. Sim, nós podemos.Quando bombas caíam em nossos portos e a tirania ameaçava o mundo, ela estava lá para testemunhar uma geração chegar à grandeza, e a democracia foi salva. Sim, nós podemos.Ela estava lá para ver os ônibus em Montgomery, as mangueiras em Birmingham, a ponte em Selma e um pregador de Atlanta que disse “Nós Devemos Superar”. Sim, nós podemos.Um homem chegou à Lua, um muro caiu em Berlim, um mundo foi conectado por nossa ciência e imaginação. Neste ano, nesta eleição, ela tocou o dedo em uma tela e registrou o seu voto porque, após 106 anos na América, através dos melhores e dos mais escuros dos tempos, ela sabe que a América pode mudar. Sim, nós podemos.América, nós chegamos tão longe. Nós vimos tanto. Mas há tantas coisas mais para serem feitas. Então, nesta noite, devemos nos perguntar: se nossas crianças viverem até o próximo século, se minhas filhas tiverem sorte suficiente para viver tanto quanto Ann Nixon Cooper, quais mudanças elas irão ver? Quanto progresso teremos feito?É nossa chance de responder a esse chamado. É o nosso momento.Esse é nosso momento de devolver as pessoas ao trabalho e abrir portas de oportunidade para nossas crianças; de restaurar a prosperidade e promover a paz; de retomar o sonho americano e reafirmar a verdade fundamental de que, entre tantos, nós somos um; que, enquanto respirarmos, nós temos esperança. E onde estamos vai de encontro ao cinismo, às dúvidas e àqueles que dizem que não podemos. Nós responderemos com o brado atemporal que resume o espírito de um povo: Sim, nós podemos.Obrigado. Deus os abençoe. E Deus abençoe os Estados Unidos da América.