Organizado pelas Professoras Veronica Molina e Patrícia Vieira, o I Congresso Online de Metodologias Ativas será transmitido via hangouts e youtube e tem como objetivo aproximar os profissionais da educação que utilizam técnicas diferenciadas como estratégias pedagógicas dentro da sala de aula, possibilitando a troca de experiências a partir da apresentação das conquistas e dos desafios enfrentados ao decorrer do processo de ensino-aprendizagem.
Com estas ações o Congresso pretende aumentar a rede de professores que conhecem as metodologias ativas e incentivam o protagonismo do aluno na busca pelo conhecimento mediante o emprego da aprendizagem significativa.
O Congresso ocorrerá nos dias 9, 10 e 11 de setembro de 2019, via online.
Serão ministradas palestras de 25-30 minutos e 20 minutos de mediação. Essas palestras ficarão gravadas no canal do youtubeICONONMETA
A cada dia teremos como abertura do dia uma palestra ministrada pelas organizadoras e uma palestra de um convidado.
Metodologia peer instruction: contribuições para o ensino-aprendizagem e para a formação profissional, artigo de autoria das Professoras Patrícia Vieira, Claudete Bezerra dos Santos Canadá e Maria Auxiliadora Fontana
O mundo está em constante mudança e em
diversos aspectos, como econômico, social, cultural, ambiental, educacional.
Deste modo, faz-se necessário que o ensino e a aprendizagem sejam adequados ao
panorama contemporâneo.
O processo de transmissão do conhecimento,
que ocorria verticalmente dos pais para os filhos, do artesão para o seu
auxiliar transformou-se com as novas relações sociais, sobretudo a partir da
Revolução Digital, o que evoca um novo papel do professor no processo de
ensino-aprendizagem, por meio de técnicas e metodologias diversas que valorizam
o protagonismo do aluno e colocam o professor como um mediador e incentivador
pela busca do conhecimento.
Para atender as demandas atuais de
ensino-aprendizagem, da formação de alunos dinâmicos e críticos, para que se
tornem profissionais competentes e comprometidos, faz-se necessária uma
formação mais ativa, que proporcione, no processo da busca pelo saber, a
identificação do estudante com a metodologia de ensino e o conhecimento que
será construído em sala de aula, ao considerar a interdisciplinaridade no
processo formativo, uma vez que as organizações cada vez mais trabalham com
equipes multidisciplinares e profissionais com múltiplos saberes.
Outra vertente importante a ser considerada no processo de ensino-aprendizagem é a busca do docente pela criação de estratégias pedagógicas que estimulem os discentes a aumentarem o grau de comprometimento com os estudos, a melhoria da comunicação verbal e escrita, com ênfase nas relações interpessoais, dentro e fora do ambiente escolar. Com essas ações, almeja-se que os estudantes tenham acesso a possibilidades que corroborem com a melhoria do entendimento das disciplinas e, consequentemente, das práticas profissionais. Nesse sentido, as metodologias ativas, que têm como base o ensino centrado no discente, surgem como uma ferramenta estratégica para a dinamização das aulas.
À luz dos autores Eric Mazur, Elenice Engel e João Mattar ao abordarem a Peer Instruction, José Moran e Lilian Bacich com as metodologias ativas, Ivani Fazenda e Edgar Morin com a interdisciplinaridade, e, após a análise dos casos, foi possível evidenciar as principais contribuições das metodologias para a formação pessoal e profissional dos discentes de nível superior.
Peer Instruction: a abordagem interdisciplinar da instrução por pares
Apesar de algumas instituições de ensino
intitularem as metodologias ativas como recurso inovador, muitos teóricos já
defendiam a aprendizagem ativa anteriormente, como o norte-americano John Dewey
(1859 –1952) e o brasileiro Anísio Teixeira (1900–1971), com a reconstrução e
reorganização da experiência. Também foram pensadas por Jean Piaget, com a
ideia de desequilíbrio cognitivo para alcance do conhecimento (1896 –1980), por Lev Semionovich Vygotsky com o
sociointeracionismo (1896 –1934), Carl Rogers com ensino centrado no aluno
(1902 –1987) e Paulo Freire com a abordagem sociocultural e em resistência à
educação bancária (1921- 1997).
A metodologia ativa pode ser concebida como uma educação que pressupõe a atividade (ao contrário da passividade) por parte dos alunos (MATTAR, 2017, p.21). Pode-se caracterizar metodologias ativas como as estratégias de ensino que levam os discentes para o centro do processo de ensino-aprendizagem, ou seja, eles passam a ser os protagonistas da construção do conhecimento. Para Moran (2018, p.4), “metodologias ativas são estratégias de ensino centradas na participação efetiva dos estudantes na construção do processo de aprendizagem, de forma flexível, interligada e híbrida”. De acordo com Santos:
o objetivo é impulsionar a abertura para a autonomia do aluno em relação ao seu aprendizado que passa ser o aprendente e é estimulado a apresentar seu conhecimento prévio, refletir sobre o tema proposto e buscar bibliografias complementares para construir novas ressignificações. (2018, p.187).
Assim os
processos que tendem a estimular o aprender a aprender dos alunos remetem ao
aprendizado ativo.
A Peer
Instruction ou instrução em pares foi uma metodologia desenvolvida pelo
professor Eric Mazur, da Universidade de Harvard, em 1991, e tem como base
aferir o entendimento dos alunos sobre os conteúdos estudados de forma imediata
com o propósito de sanar as dúvidas. A proposta foi implantada nas turmas de
introdução à Física nos cursos de graduação em ciências e engenharias, porque
os seus alunos não conseguiam resolver os problemas práticos, mas dedicavam-se
a resolver exercícios propostos em livros e provas. De acordo com Mattar:
A peer instruction (ou instrução por pares), apesar de ser considerada um tipo de sala de aula invertida, merece ser tratada separadamente, tanto por desenvolver uma metodologia específica e sistemática e medir continuamente seus resultados, quanto porque propõe o conceito e a prática de alunos ensinarem e aprenderem de seus colegas. (2017, p.41).
Seguindo a
premissa das metodologias ativas, a instrução em pares tira o professor do
centro do processo de ensino-aprendizagem, posicionando o aluno neste lugar,
uma vez que os alunos trocam e constroem o conhecimento e alimentam
positivamente as relações interpessoais. Abaixo apresentam-se as fases desta
metodologia:
Caso a maioria
dos estudantes escolha a resposta correta do teste conceitual, a aula prossegue
para o próximo tópico. Porém, se a porcentagem de respostas corretas for baixa
(menos 30%), o mesmo tópico deve ser ensinado com mais detalhes e deverá ser
uma nova avaliação com outro teste conceitual (MAZUR, 2015).
Ao estudar a instrução por pares, retomamos o princípio sociointeracionista de Vygotsky, citado por La Taille, Oliveira e Dantas (1992, p.24):
Vygotsky tem como um de seus pressupostos básicos a ideia de que o ser humano constitui-se enquanto tal na sua relação com o outro social. A cultura torna-se parte da natureza humana num processo histórico que, ao longo do desenvolvimento da espécie e do indivíduo, molda o funcionamento psicológico do homem.
Os alunos constroem o conhecimento a partir das interações sociais no meio em que estão inseridos, ou seja, há troca de saberes na sala de aula, o que valida a perspectiva interdisciplinar do aprendizado. Para Fazenda, a sala de aula é um ambiente propício para a interdisciplinaridade:
A sala de aula é lugar onde a interdisciplinaridade habita. Em nossa pesquisa verificamos que o elemento que diferencia uma sala de aula interdisciplinar de outra não interdisciplinar é a ordem e o rigor travestido de uma nova ordem e de um novo rigor [...] Numa sala de aula interdisciplinar a autoridade é conquistada, enquanto que na outra é simplesmente outorgada. Numa sala de aula interdisciplinar a obrigação é alternada pela satisfação; a arrogância, pela humildade; e a solidão pela cooperação; a especialização, pela generalidade; o grupo homogêneo, pelo heterogêneo; a reprodução, pela produção do conhecimento (FAZENDA, 2016, p.85 e 86).
As afirmações da
autora tratam da interdisciplinaridade e apresentam algumas intersecções com as
metodologias ativas no processo de ensino-aprendizagem e, em especial, com a Peer Instruction, uma vez que essa
metodologia ativa, além de objetivar o aprendizado, possibilita a melhoria das
relações interpessoais por meio do processo colaborativo entre os alunos com a
mediação do professor.
Ao analisar o contexto interdisciplinar que envolve o processo de ensino, Morin alerta-nos sobre os prejuízos na fragmentação das disciplinas diante da complexidade dos fenômenos:
Efetuaram-se progressos gigantescos nos conhecimentos no âmbito das
especializações disciplinares, durante o século XX.Porém, estes progressos estão dispersos, desunidos, devido justamente à especialização que muitas vezes fragmenta os contextos, as globalidades e as complexidades. Por isso, enormes obstáculos somam-se para impedir o exercício do conhecimento pertinente no próprio seio de nossos sistemas de ensino.[...] Estes sistemas provocam a disjunção entre as humanidades e as ciências, assim como a separação das ciências em disciplinas hiperespecializadas, fechadas em si mesmas (MORIN, 2000, p.40).
Os problemas são
complexos e a formação dos estudantes deve possibilitar o desenvolvimento da
inteligência geral, o que não ocorre com a aprendizagem fragmentada, que
dificulta a resolução de problemas especiais.
Contribuições da Peer Instruction no processo de ensino- aprendizagem
As metodologias
ativas não são novas, contudo a expressão teve aumento significativo em seu uso
nos últimos tempos. No Google Acadêmico, até o ano 2000, são encontradas apenas
14 citações e, de 2001 até 2016, há um crescimento de 7 para 1.310 citações
(MATTAR, 2017). Com a Peer Instruction,
não é diferente, entre os anos de 2001 e 2017, aparecem 54 citações da
expressão em títulos no Google Acadêmico e, desse total, 19 artigos foram inseridos
em 2017.
No Brasil,
algumas instituições de ensino superior trabalham com a Peer Instruction, porém, neste artigo, cita-se o Centro
Universitário Salesiano de São Paulo – UNISAL -, que fez a implantação da
metodologia em 2012, e a Universidade do Extremo Sul Catarinense – UNESC, em
Criciúma, que, a partir da publicação do livro
O Saber e o Fazer dos Docentesno
Âmbito da UNESC (2017), socializou as práticas pedagógicas e divulgou um
estudo sobre a utilização dessa metodologia no curso de Tecnologia em Gestão
Comercial.
Peer Instruction não apenasno processo de ensino-aprendizagem, mas também na vida profissional. Ao
instigar o aluno a fazer a leitura e o estudo do material a ser discutido em
aula, ao anotar as dúvidas e consolidar as relações interpessoais, aprende
lidar com o outro, a convencer o colega ou um grupo de que sua resposta está
certa, o que não é simples, requer pesquisa e fundamentação.
Sabe-se que, além do conhecimento, habilidade e atitude, as organizações necessitam de colaboradores que se comuniquem com os stakeholders de maneira assertiva e produtiva. Não basta o conhecimento técnico e teórico, os funcionários precisam interagir em meio às situações que muitas vezes são adversas, com resolutividade, assim o ambiente escolar pode ser visto como um espaço crítico-criativo que possibilita o aperfeiçoamento e o preparo desse discente para o mercado de trabalho em meio aos erros e acertos. Nesse cenário, as metodologias ativas tornam-se estratégias profícuas para oferecer ao aluno um movimento de pensamento, de sentimento e de ação para solucionar questões da vida prática.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir do
presente estudo, que não tem a intenção de esgotar o tema, foram constatados
aspectos positivos com a utilização da metodologia Peer Instruction, tais como o aumento da autonomia do aluno, que,
em um primeiro momento, pode estudar de forma mais autodidata, ou seja, na
pré-aula o discente fica encarregado de realizar a leitura inicial e fazer o
teste de leitura e, nas demais fases da utilização da metodologia, conta com o
professor como mediador, além da construção do conhecimento de forma
colaborativa com os seus pares, competências bastante relevantes para a vida
profissional.
Outro aspecto
importante a ser considerado é a mudança significativa na forma como as aulas
são preparadas e os conteúdos são ministrados pelos docentes, tendo em vista
que o material é disponibilizado com antecedência e cabe ao professor criar
mecanismos para que a aula não se torne um processo de mera leitura e repetição
do que está no livro e nas notas de aula. Nesse sentido, aprende tanto o aluno
quanto o professor, em um contínuo movimento de pesquisa e troca.
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Por que motivo as crianças, de modo geral, são poetas e, com o tempo, deixam de sê-lo?
Será a poesia um estado de infância relacionada com a necessidade de jogo, a ausência de conhecimento livresco, a despreocupação com os mandamentos práticos de viver – estado de pureza da mente, em suma?
Acho que é um pouco de tudo isso, se ela encontra expressão cândida na meninice, pode expandir-se pelo tempo afora, conciliada com a experiência, o senso crítico, a consciência estética dos que compõem ou absorvem poesia.
Mas, se o adulto, na maioria dos casos, perde essa comunhão com a poesia, não estará na escola, mais do que em qualquer outra instituição social, o elemento corrosivo do instinto poético da infância, que vai fenecendo, à proporção que o estudo Sistemático se desenvolve, ate desaparecer no homem feito e preparado supostamente para a vida?
Receio que sim.
A escola enche o menino de matemática, de geografia, de linguagem, sem, via de regra, fazê-lo através da poesia da matemática, da geografia, da linguagem.
A escola não repara em seu ser poético, não o atende em sua capacidade de viver poeticamente o conhecimento e o mundo. Sei que se consome poesia nas salas de aula, que se decoram versos e se estimulam pequenas declamadoras, mas será isso cultivar o núcleo poético da pessoa humana?
Oh, afastem, por favor, a suspeita de que estou acalentando a intenção criminosa de formar milhões de poetinhas nos bancos da escola maternal e do curso primário.
Não pretendo nada disto, e acho mesmo que o uso da escrita poética na idade adulta costuma degenerar em abuso que nada tem a ver com a poesia.
Fazem-se demasiados versos vazios daquela centelha que distingue uma linha de poesia, de uma linha de prosa, ambas preenchidas com palavras da mesma língua, da mesma época, do mesmo grupo cultural, mas tão diferentes.
Se há inflação de poetas significantes, faltam amadores de poesia – e amar a poesia é forma de praticá-la, recriando-a.
O que eu pediria à escola, se não me faltassem luzes pedagógicas, era considerar a poesia como primeira visão direta das coisas e, depois, como veículo de informação prática e teórica, preservando em cada aluno o fundo mágico, lúdico, intuitivo e criativo, que se identifica basicamente com a sensibilidade poética.
Não seria talvez despropositado cuidar de uma extensão poética das escolinhas de arte, esta ideia maravilhosa que Augusto Rodrigues tirou de sua formação humana de artista para a realidade brasileira. Longe de ser uma fábrica alarmante de versejadores infantis, essa extensão, curso ou atividade autônoma, ou que nome lhe coubesse, daria à criança condições de expressar sua maneira de ver e curtir a relação poética entre o ser e as coisas. Projeto de educação para a poesia (fala-se hoje em educação artística no ensino médio, quando o mais razoável seria dizer educação pela arte).
A vocação poética teria aí uma largada franca, as experiências criativas gozariam de clima favorável sem que tal importasse na obrigação de alcançar resultados concretos mensuráveis em nível escolar.
Sei de casos em que um engenheiro, por exemplo, aos 30, 40 anos, descobre a existência da poesia…
Não poderia tê-la descoberto mais cedo, encontrando-a em si mesmo, quando ela se manifestava em brinquedos, improvisações aparentemente absurdas, rabiscos, achados verbais, exclamações, gestos gratuitos?
Alguma coisa que se bolasse nesse sentido, no campo da Educação, valeria como corretivo prévio da aridez com que se costuma transcrever os destinos profissionais, murados na especialização, na ignorância do prazer estético, na tristeza de encarar a vida como dever pontilhado de tédio.
E a arte, como a educação e tudo o mais, que fim mais alto pode ter em mira senão este, de contribuir para a educação do ser humano à vida, o que, numa palavra, se chama felicidade?
(Transcrito do Jornal do Brasil, Rio de Janeiro – RJ, 20.07.74)